Sunday, January 29, 2006

MInha guitarra é fêmea.

"Senhoras e senhores, membros da comunidade científica, tenho a declarar que fiz uma descoberta importantissíma: minha guitarra é fêmea"
Eis que a platéia observou a tudo estupefata, enquanto Dr. Ferguson explicava seus motivos com o indicador direito apontado para seu zênite, mas de forma involuntária. É óbvio que ninguém deu ouvidos a ele, que retornou àquele palanque tempos depois dizendo que daria a volta ao mundo num balão.
O que Júlio Verne esqueceu de mencionar, era um fato extremamente sagaz, que só uma mente poderosa como a do Dr. Ferguson seria capaz de descobrir. É claro que algumas delas são fêmeas. A minha é, e não só pelo artigo que venho através deste dizer a todos que corroboro com o nosso fictício amigo. Atesto isso, e o faria num gueto se tivesse um por aqui, pois minhas observações empíricas mostram resultados claros. As mulheres e as guitarras se comportam da mesma forma em relação à mim, meus atos surtem efeitos similaríssimos em relação à ambas, e por fim, minha posição em relação às duas é igual.
Minha guitarra é ciumenta. Minha guitarra é intempestiva, há horas onde deve-se ser bruto, ou o som será comprometido; ao passo que deve-se sempre se ser carinhoso, já que ela precisa de jeito pra ser feliz. Ela me faz feliz (a guitarra), mas tem dia que sinto que ela está de mau humor, e custe o que custar, ela não emite nada melhor que um coelho de birmânia tocando basset-horn (ouvi falar que 10% deles carregam armas de destruição em massa)(...os coelhos). Ela me faz de bobo. Há dias em que penso nela na hora de acordar, na hora de dormir, na hora de acordar de novo pois a aula acabou, durante o dia, e finalmente, na hora H, tudo é bem sem sal... e eu lá, que nem um idiota, me esforçando pra fazer tudo sair certo. Ah sim, claro! A guitarra é um ser inanimado, e isso significa que todo e qualquer problema envolvido terá a culpa jogada sobre mim. Sim, a culpa é sempre minha. "Mas eu sou o culpado de o potenciômetro não estar dissipando o sinal da maneira certa?" "sim" "mas eu sequer vi o maldito potenciômetro!" "é completamente diferente". Já mencionei que ela é ciumenta? Mil perdões, queria reforçar essa. Certa vez, resolvi tocar piano, e passei aquela semana transpondo um flamenco bem bobo que vive a me atormentar. Quando voltei pra guitarra, nada saía. Nada. Só faltou estourar a corda. E é claro, se alguém tocasse nela por 12 horas e fizesse algo fantástico, eu jamais poderia ficar com ciume. Ciúme? que coisa feia! Todos sabem que a culpa é sua, que não estava lá dando atenção a ela na hora certa. Ouvi dizer que você foi grosso, gritou e jogou os livros na mesa, e ela tá puta contigo agora.
Nessa hora, você se pergunta: "oh tristeza enorme, ao ver criatura disforme, pousado defronte à figura de hipólita sob seus portais! Esquece a guitarra e não toca nunca mais!" assim mesmo, em verso e tudo. Mas não se precipite amiguinho, lembre-se dos coelhos de birmânia (ouvi falar que 33% deles chegam ao sétimo chacra). Eu amo tocar guitarra, é mais forte que eu. Estou sinceramente disposto a aguentar todos os infortúnios supracitados e deformados. É como quando você sabe que vai fazer algo errado, aí você olha pro seu ombro direito e vê o famigerado diabinho dizendo "faaaaça!" de forma grangrejada; até que você, mais sedento por uma segunda opinião que o meu pai ao ouvir que tem que parar de beber, olha para o ombro esquerdo e vê... outro diabinho! Aí não tem remédio que cure, o jeito é jogar a bandeira do Brasil em cima e dizer que é pela pátria. Realmente não estou disposto a desistir da coisa. O problema é não poder exercer a minha não-desistência. E vocês devem saber que duas negativas numa frase é sinônimo de merda no ventilador. Eu adoraria ser um grandesíssimo músico, mas a cada dia que passa chego à conclusão que eu não tenho talento. Eu sei a teoria toda, meus amigos (que são bobos que nem eu) até acham que eu sei muito, como uma mãe que diz ao filho o quanto ele é bonito. Me lembro do dia em que estava substituindo uns arpejos (que envolve uma pá de intervalos), e o professor disse: "deixa esse último pra outra hora, é muito difícil". Eu, como um bom cara com idade mental igual a 12 anos, resolvi fazer. Consegui, e após o professor ter conferido, ele disse: "é cara, você tá sacando de intervalos!". Fiquei muito feliz. Como uma criança que consegue pegar a primeira onda, e chega suavemente à praia pronto para cumprimentar o irmão que assistiu aquilo tudo de perto. Eis que eu ouço o complemento "só tem que treinar essa técnica, desde o início". Nessa hora, o irmão que assistia dá um tapa na testa do surfista, fazendo com que ele caia e destruindo toda a ternura. Sim, crianças podem ser cruéis, assim como professores, os coelhos de birmânia e o todo resto (ouvi falar que 12,5% deles estão possuídos pelo capeta). Eu posso até saber muito, dar uns conselhos que fazem os meus amigos se darem bem, mas quando é comigo, falta técnica, prática e segurança pra dar show. E confie em mim, dizer que tem medo de palco não ajuda. Fica aqui o protesto final.
O jeito é tentar e tentar, pra quem sabe assim resolver o paradoxo do candidato inexperiente, ou morrer tentando. Por sorte ainda tenho a Física.

"yo tengo miedo!"

Saturday, January 28, 2006

The End

Eu me lembro de dizer pra mim mesmo: "essas pessoas vão fazer parte da sua vida." Fato, elas fazem. E é interessante pensar que à medida que tudo acontece, e o tempo passa, nós simplesmente observamos tudo bestificados.
Ninguém nunca entende o porquê de nossos pais sentirem saudade. Certa vez li uma citação de Shakespeare feita por uma bela moça que explicava isso de forma bem clara. No fim das contas, é isso aí. É claro que não passei horas pensando nisso, "o tempo passando e bla bla bla", é só uma maneira de entender que tudo tem seu tempo, pois o tempo tem tudo. Acho que nunca entendi essa direito, talvez pela dialética da coisa. É como diferenciar moriçocacídeo de polissacarídeo, ou de poliçocacídeo e morissacarídeo. Pra mim é tudo a mesma coisa. E pra piorar, eu sempre saio frustrado, de forma que eu acabo dando valor para as coisas, e assim a frustração se torna pano de fundo de ingenuidade juvenil (pudera, nunca fui senil). Deve ser assim que eu aprendo. É um método um tanto quanto torpe, eu diria, mas todos sabem que mexer em time que ganha faz com que os cavalos percam os dentes. Eu nao tenho cavalos, mas adoraria ter uma escada, e escadas sem dentes são ripas de madeira.
Textos muito emocionais sempre são initelingíveis ou ruins, e quando você de fato quer que alguém entenda, ele fica ruim. Merda, eu até sabia que |z|[sen(o)+icos(o)] não era um número complexo. O jeito é esperar, tentar não escrever textos ruins (talvez continuar com os poemas), e viver tudo no seu momento. E claro, não esquecer que eu mesmo cheguei à essa conclusão.

"This is the end... beautiful friend. This is the end... my only friend, the end. Of all the things that stand, the end. I'll never look into yoour eyes... again."

Friday, January 27, 2006

Brancos e livres

Longos cabelos. Dedos afilados se entrelaçam. A pele macia serve de palco para um minueto de olhares medidos e condicionados, tímidos como os seres dos contos fantásticos.
Um sorriso furtivo escapa de quando em quando, revelando um turbilhão de elogios polipensados e escondidos, receosos de uma resposta.
A boca macia e grossa desenha toda uma sinestesia juvenil, que remete a uma fresca manhã acordada numa envidraçada casa branca cercada por jardins.
E como todo carnaval tem seu fim, toda estrela tem seu colapso, toda divagação tem suas mãos atadas a um fardo de realidade. Os cabelos continuam seu enlace, o olhar a sua dança, e a boca o seu sonho.
As letras surgem, como única prova de que tudo isso acontece.

Wednesday, January 25, 2006

Desista...

Desista...
não preciso de você
e nunca direi que
te amo muito!
Pois saiba que
sua existencia me é inútil...
Nunca pense que
sinto sua falta agora!
De que servem lembranças se
elas são ruins!
a respeito das horas sem você?
eu gosto muito!
de você, digo uma coisa:
Desista...